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Gestoras miram originação de ofertas de debêntures

5 minutos de leitura
Por Valor Econômico
16 out 2023

Movimento permite obter maior retorno com operação formatada sob medida para projetos de empresas de infraestrutura

Gestoras de investimento têm buscado oportunidades em debêntures de infraestrutura, mas não apenas naquelas que são oferecidas ao mercado. É crescente o movimento de casas que investem na originação e na estruturação de ofertas como uma maneira de obter maiores retornos com operações “customizadas”.

A JGP já atuava na originação de ofertas desde 2019, mas começou a focar esforços na busca de mais operações desde a fusão com a L6 Capital, boutique de investimentos focada em fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) e produtos estruturados, em março deste ano. A L6, que hoje é chamada de JGP Financial Advisory, também tinha um braço de originação de crédito. O crescimento dessa área, porém, esbarrava na competição direta com bancos, que geralmente têm mais recursos e estrutura para dar garantia firme nas ofertas.

“A nossa ideia agora é aproveitar o contato que a JGP Financial Advisory tem com as companhias para buscar mais operações e, ao invés de dar a garantia firme, como os bancos, fazer a ancoragem em nossos fundos”, explica Antônio Pedro de Leão Teixeira, sócio e gestor da JGP responsável pela área de infraestrutura.

Na prática, originar uma oferta de debênture significa ter que ir atrás de companhias, entender os projetos e participar desde o início da operação, negociando detalhes como as garantias, os “covenants” e os prazos. “É um enorme benefício conseguir trabalhar para que as operações fiquem com a cara de um fundo, com o mandato de risco que temos”, diz Aymar Almeida, sócio e gestor de infraestrutura da Kinea, que faz originações desde 2017, quando a casa foi criada. “Hoje, cerca de 80% das nossas operações não estão disponíveis no mercado, foram originadas e ficaram na gestora.”

Para a JGP, a originação pode ser o caminho para conseguir taxas mais interessantes, considerando que as companhias pagarão menos nas operações. “O custo da oferta para as empresas acaba sendo menor porque não cobramos a garantia firme, mas também porque não precisamos cobrar taxas para vender em plataformas”, diz Teixeira.

Até o fim de janeiro, a JGP pretende listar um novo fundo de investimento em infraestrutura com planos de captação de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões. “A ideia é ter até lá um ‘pipeline’ de ativos, com algumas originações proprietárias levantadas”, afirma Teixeira. O tamanho das ofertas originadas pela JGP é de R$ 50 milhões a R$ 300 milhões. A gestora pode ficar com toda a operação, dividi-la com fundos parceiros ou levar uma parcela dos títulos ao mercado.

Na Bocaina, dedicada a ativos alternativos, as operações que são originadas são “para consumo próprio”, diz Miguel Ferreira, que criou a gestora em 2020 ao lado de Gabriel Esteca. Isso, segundo os sócios, torna o processo de originação um pouco mais trabalhoso. “Na dinâmica normal, os bancos fazem a originação e a estruturação, mas depois colocam tudo no mercado. Eles saem do risco por completo”, explica Esteca. “Quando a gestora faz uma operação dessas, já tem em mente que estará nela até o último ano. Então trabalhamos nas amarras de mitigação de risco, com os colchões de proteção, pensando já no longo prazo.”

As operações originadas pela Bocaina costumam ser de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões. Com isso, a casa consegue chegar a empresas menores, que buscariam recursos em outros instrumentos, como dívida bancária. “Do nosso lado, isso é positivo porque conseguimos ofertas com risco adequado, em projetos que conhecemos com profundidade, e em que conseguimos bons níveis de retorno”, afirma Ferreira.

Uma das operações recentes feitas pela gestora de Ferreira foi a originação e estruturação de uma oferta de R$ 70 milhões em debêntures de uma companhia de saneamento. O título teve prazo de 17 anos e spread de risco de 2,75% acima da NTN-B 2035. “A emissão ficou com um dos maiores prêmios entre outras ofertas do setor”, diz Esteca. “Ficou bom para o emissor, que de outra forma talvez não conseguiria ir ao mercado de capitais, e fica bom para os investidores dos fundos, que conseguem um papel com uma taxa um pouco maior do que as disponíveis no [mercado] primário.

A busca de mais gestoras por originação de dívidas é vista como algo positivo por Ferreira. “Quanto maior a profundidade do mercado de capitais, melhor. O mercado de infraestrutura é grande e, nas próximas décadas, o Brasil demandará bilhões e bilhões em recursos”, afirma.



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